terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Carnaval 2019 - Os sambas do Grupo Especial

Ano passado, ganhou o desenredo da Beija-Flor, em que pese a escola de Nilópolis ter apresentado um bom samba e um chão fortíssimo. Veremos como será em 2019, no ano do 70º aniversário da "Deusa da Passarela"
Após o texto publicado com meus pitacos sobre os sambas do Grupo de Acesso, agora vamos aos sambas do Grupo Especial, que é a grande atração do carnaval carioca em 2019.

É uma safra da qual eu gosto, no geral. Tem coisas pavorosas, mas outras realmente excepcionais. Não dá para ignorar as deficiências de alguns sambas e, por outro lado, há que se valorizar vários outros que certamente sairão da Sapucaí com a nota máxima.

O "presidente-vampiro" foi um destaques do surpreendente desfile do Paraíso do Tuitui em 2018. O que será que Jack Vasconcellos nos aprontará neste ano?
E samba-enredo hoje tem sido um negócio muito sério e definitivo. Tanto que a Beija-Flor, com um grande chão e um visual altamente duvidoso, venceu o carnaval do ano passado - situação que até hoje rende muita polêmica. De repente, pode ser o quesito de desempate - como também não pode. 

Tem muita outra coisa que define carnaval, desde o tempo de 1900 e guaraná de rolha - e infelizmente o que temos visto são viradas de mesa que têm diminuído a credibilidade do Carnaval do Rio de Janeiro.

Mas vamos lá... temos 14 escolas, sete em cada dia, trazendo homenagens, temas polêmicos, reedição, galhofa e crítica social. Tem gente no páreo, outras ali na zona da marola, algumas com chance bem razoável de voltar no Sábado das Campeãs e pelo menos uma escola já largaria rebaixada para o Acesso - minha opinião.

Seguem abaixo as agremiações por ordem de apresentação no desfile e não pelo que se ouviu no CD produzido mais uma vez por Laíla e Mário Jorge Bruno, gravado "ao vivo" na Cidade do Samba e mixado e complementado no estúdio Cia. dos Técnicos.

IMPÉRIO SERRANO
Enredo: O que é, o que é?
Carnavalesco: Paulo Menezes
Compositor: Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha)
Intérpretes: Silas Leleu e Anderson Paz

Tenho muito carinho pelo Império Serrano. A escola de Madureira é madrinha da minha Imperatriz Leopoldinense. Quando comecei a acompanhar mais a fundo esse negócio de Carnaval e samba-enredo, sempre ouvi falar em Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, o filho deste, Jorginho do Império, Beto Sem Braço e Aluízio Machado. Bambas da maior qualidade.

Não obstante, o último carnaval ganho pela verde e branco de Magno é o histórico "Bum Bum Paticumbum Prugurundum", de 1982. Um senhor samba e um desfile que ficou para a história e na memória.

E eis que para 2019 o Império joga totalmente no lixo sua tradição de 72 anos e vem com a ideia de transformar um clássico da MPB em enredo e, pior, em samba-enredo. 

Não seria discutível pegar a música de Gonzaguinha e torná-la o mote do enredo do carnavalesco Paulo Menezes e acredito até nas melhores intenções do artista. Mas, façam-me o favor: aquilo é música popular. Pra ser cantado no jeito de samba-enredo não cabe, não tem métrica de samba-enredo como "Vai passar", de Chico Buarque de Hollanda. 

Acompanhei o ensaio técnico do último dia 23 e, embora o componente cante com emoção e fervor - e a bateria tenha dado um sacode, com Mestre Gilmar à frente da competentíssima Sinfônica - não dá pra salvar o que não tem salvação.

Com todo respeito ao Império, até porque o Império merece todo o nosso respeito: vilipendiar a própria história do Carnaval carioca e do próprio samba-enredo e suas raízes imperianas, é demais para o meu gosto.

UNIDOS DO VIRADOURO
Enredo: Viraviradouro
Carnavalesco: Paulo Barros
Compositores: Renan Gêmeo, Bebeto Maneiro, Thiago Carvalhal, Ludson Areia, Júnior Filhão, Raphael Richaid, Ricardo Neves, Carlinhos Viradouro e Rodrigo Gêmeo
Intérprete: Zé Paulo Sierra

De volta ao Grupo Especial, a Unidos do Viradouro retorna com um samba que é a cara dos enredos de Paulo Barros. A letra não diz nada com nada, mas é tremendamente funcional, bem construída, com melodia valente e um grande intérprete - sou fã de Zé Paulo Sierra e falei isso pra ele, pessoalmente, no Baródromo - quando o cantor se apresentou na casa ano passado.

E não só o samba é adequado. A própria Viradouro se preparou muito bem para permanecer no lugar em que muitos dizem que não devia ter saído. Contratou Ciça para comandar uma bateria que tem feito um trabalho excepcional e principalmente um Paulo Barros que retorna à agremiação do Barreto e vem mordido para querer fazer um grande carnaval e mostrar que continua um gênio indomável e por vezes polêmico - deveria, por exemplo, ter ficado calado quando falou que "enredos críticos são modinha". Nada menos exato.

Nos bastidores, dizem que a escola está pronta e que pode voltar ao Sábado das Campeãs. E torço para que volte. Mas o samba-enredo não é daqueles fora de série. A escola pode perder alguns décimos por conta da letra - porém, cabeça de jurado é que nem bunda de neném: você não sabe o que pode sair de dentro dela...

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Enredo: Quem nunca...? Que atire a primeira pedra
Carnavalescos: Renato e Márcia Lage
Compositores: Moacyr Luz, Cláudio Russo, André Diniz, Licinho Júnior, Elias Bililico e G. Martins
Intérprete: Evandro Malandro

A Grande Rio sambou na cara de quem vive do Carnaval. "Quem tem amigos, tem tudo" - frase do presidente da agremiação de Caxias, quando se negociou a vergonhosa virada de mesa que manteve a tricolor no Grupo Especial.

Para piorar, veio o deboche do título do enredo proposto por Renato Lage e a mulher deste, Márcia, para 2019. Uma tentativa de se redimir do pecado cometido no ano passado na estreia do carnavalesco com o enredo sobre o genial Chacrinha, quando ficaram em penúltimo lugar. E apesar da griffe que carregam Moacyr Luz, Cláudio Russo e André Diniz, o samba deixa a desejar nos argumentos e na proposta.

"Se errei, peço perdão", é um escárnio da letra. A escola errou e feio. Não há quem não negue. "Falam de mim, eu falo de paz". Que paz? Não haveria essa palhaçada toda e não perderíamos tempo criticando a segunda vergonha seguida perpetrada pela LIESA se o regulamento fosse cumprido à risca.

Lamento que o ótimo intérprete Evandro Malandro faça sua merecida estreia no Grupo Especial cantando um samba tão despropositado. A notar que a bateria da Tricolor voltou a ter a mesma qualidade dos tempos de Odilon, comandada pelo novato Fafá. 

A Grande Rio poderia voltar aos seus ótimos enredos dos anos 1990, para resgatar alguma simpatia deste escriba aqui. Porque, olha... tá difícil.

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Enredo: Xangô
Carnavalesco: Alex de Souza
Compositores: Demá Chagas, Marcelo Motta, Renato Galante, Fred Camacho, Getúlio Coelho, Leonardo Gallo, Vanderlei Sena, Francisco Aquino, Guinga do Salgueiro e Ricardo Fernandes
Intérprete: Emerson Dias

Se existe um samba com a cara de uma escola, esse é o do Acadêmicos do Salgueiro. Uma letra bem construída, poderosa, forte e bem ao gosto da nação salgueirense - que viveu momentos de indefinição absoluta no período pré-carnavalesco.

Sai Regina, volta Regina, sai Regina de novo, volta Regina mais uma vez, sai Regina. Definitivamente. E sem Regina Celi Fernandes, talvez a vermelho e branco da Tijuca possa ter paz. A nova diretoria trouxe o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira que a antiga presidente resolveu botar no olho da rua e, em troca disso, Mestre Marcão, um dos grandes diretores de Bateria do nosso Carnaval, foi demitido. Quinho, intérprete-símbolo do Sal por muitos anos, também afastado pela ex-presidente, voltou para dar mais "molho" ao carro de som.

Outros acertos foram a permanência de Alex de Souza como carnavalesco e a vinda de Emerson Dias a reboque do acerto que manteve a Grande Rio no Grupo Especial. O Salgueiro ganha em peso com um intérprete que finalmente poderá mostrar o que vale cantando um grande samba. Eu gosto da obra de Marcelo Motta e parceiros. Vamos ver se a escola sai da fila que pode chegar a 10 anos...

Em tempo: Xangô é o orixá da Justiça. E em tempos que é preciso se fazer justiça, veremos se haverá uma no resultado final.

Porque em 2018... melhor deixar pra lá.

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Enredo: Quem não viu vai ver... As fábulas do Beija-Flor
Carnavalesco: Comissão de Carnaval (Cid Carvalho, Bianca Behrends, Leo Mídia, Rodrigo Pacheco e Victor Santos)
Compositores: Di Menor BF, Júlio Assis, Kirazinho, Diego Oliveira, Fabinho Ferreira, Diogo Rosa, Dr. Rogério, Carlinho Ousadia, Márcio França, Kaká Kalmão, Jorge Aila e Serginho Aguiar
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

A Beija-Flor chega ao carnaval do seu 70º aniversário com mudanças drásticas em sua estrutura de Carnaval. Laíla e Fransérgio deixaram a escola, rumo a novos desafios. Um mal-parado com Gabriel David, que parece ser o herdeiro de Anísio Abrahão David na hierarquia nilopolitana, pode trazer sérias consequências para o desfile de 2019.

Começaram mal com a escolha do samba. Na verdade, anunciaram um que em princípio parecia perfeito. Depois, a direção da agremiação decidiu por um "Frankenstein" enfiando partes de um dos sambas derrotados na final - piorando a obra que seria aquela que impulsionaria os 75 minutos de desfile da 'Deusa da Passarela'.

E é um samba aquém do que se imaginava para se falar de sete décadas "do Beija-Flor", como diz o título do enredo e como disse Neguinho da Beija-Flor ao abrir o samba de 1976 com um "Olha o Beija-Flor aí, meu povo". Logo na primeira estrofe, já fala em humildade - algo que falta não só à escola como aos seus próprios componentes - que são fieis xiitas e apaixonados, justiça seja feita. Foi até pelo chão e pela comunidade que venceram - injustamente - o desfile de 2018. 

Como letra, não gosto. Acho fraco. Um dos piores da safra. Poderia ser bem mais descritivo das histórias e tradições da Beija-Flor.

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
Enredo: Me dá um dinheiro aí!
Carnavalescos: Mário Monteiro e Kaká Monteiro
Compositores: Elymar Santos, Márcio Pessi, Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Júlio Alves e Dudu Miller
Intérprete: Arthur Franco

Era uma vez uma sinopse terrível, cortesia de uma ideia de enredo desproposital para as tradições da Imperatriz Leopoldinense, que gerou uma eliminatória e uma safra abaixo da crítica e um samba apontado como um dos piores do ano pelos críticos e eu, gresilense fanático, torci muito o nariz. 

Quando você olha a letra de um samba que tem entre seus compositores alguns dos campeões de 2018 e nada mais nada menos que Elymar Santos, um apaixonado pela GRESIL, você até pode pensar... 'eles podiam ter feito melhor'. Sim, sem dúvida, se a sinopse tivesse ajudado.

Mas o Carnaval nos traz coisas que só o imaginário popular pode nos proporcionar. Fui alertado de que o bicho poderia não ser tão feio quanto se imaginava. E eu imaginava a Rainha de Ramos como séria candidata ao rebaixamento.

Só que muitos outros sambas trash como este da Imperatriz (não tão pior quanto a nefasta obra de 1988 e o ridículo samba do Bacalhau, registre-se) tornam-se audíveis, palatáveis e até gostosos de ouvir - depois que você se acostuma com ele e o teu viés de avaliação muda. 

Pela galhofa, pela sacanagem do refrão dúbio no meio ("Troca troca ê... na beira da praia")... afinal, Carnaval não é alegria e galhofa? Pois a Imperatriz vem diferente, muito diferente de suas tradições.

E eu vi uma Imperatriz animada, alegre, feliz e descompromissada no ensaio do último sábado. Não só com um samba na ponta da língua, como a bateria está espetacular. A Swing da Leopoldina chega ao desfile em forma absurda. Mestre Lolo está de parabéns com o trabalho de reconstrução de um ponto crucial de um desfile, na parte melódica e de harmonia musical. Se fizer o dever de casa, sai com quatro notas máximas.

UNIDOS DA TIJUCA
Enredo: Cada macaco no seu galho. Ó meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome!
Carnavalesco: Comissão de Carnaval (Laíla, Fransérgio, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo)
Compositores: Márcio André, Júlio Alves, Daniel Katar, Diego Moura, Dr. Jairo, Nêgo, Elias Lopes e Júnior Trindade
Intérprete: Wantuir

Mais um grande samba da safra 2019. Fruto da vinda de Laíla para a escola do Borel, quase quatro décadas após sua primeira passagem pela agremiação. E uma obra que emula - demais - muitos dos sambas ouvidos e depois vistos na avenida apresentados pela Beija-Flor. Foi a impressão que tive na primeira audição - e muitas outras me fizeram ter essa certeza.

É um samba denso, de melodia pesada, mas que eu adoro. Acho emocionante, bonito - do início ao fim - e com uma belíssima melodia. Depois de toda a polêmica da virada de mesa de 2017 e do resultado digno do ano passado (7º lugar), a Unidos da Tijuca vem com toda a força para brigar pelo título.

Outro destaque é o retorno do ótimo Wantuir ao carro de som da escola e o intérprete foi muito bem na gravação da obra tijucana, que tem entre seus compositores o excepcional cantor Nêgo, irmão de Neguinho da Beija-Flor.

SÃO CLEMENTE
Enredo: E o samba sambou
Carnavalesco: Jorge Silveira
Compositores: Mais Velho, Helinho 107, Nino, Chocolate e Alceu Maia
Intérpretes: Leozinho Nunes e Bruno Ribas

Única a apostar numa reedição para a safra de 2019 do Grupo Especial, a São Clemente luta pela permanência na elite do Carnaval carioca tendo na obra de 1990 o seu grande trunfo.

Na época, com o título "E o samba sambou...?" do enredo, a nação clementiana pisou forte na Marquês de Sapucaí e o samba assinado por Mais Velho, Helinho 107, Chocolate, Nino e o grande cavaquinista e arranjador Alceu Maia, pegou na veia. Surpreendeu pela crítica ácida e absolutamente pertinente à estrutura de carnaval que tínhamos - o Império já fizera o mesmo em 1982 - e ainda temos. 

Muito embora pareça uma crítica datada para uns, para outros - e para mim - continua soando como algo pertinente. Resta ver se o carnavalesco Jorge Silveira dará o seu recado na concepção da proposta. O samba é imortal. Pra mim, um dos melhores da história da São Clemente, que precisa trazer de volta à avenida o seu status quo de escola irreverente, ousada e crítica, que tanto faz falta à festa.

UNIDOS DE VILA ISABEL
Enredo: Em nome do pai, do filho e dos Santos, a Vila canta a cidade de Pedro
Carnavalesco: Edson Pereira
Compositores: Evandro Bocão, André Diniz, Professor Wladimir, Marcelo Valência, Júlio Alves, Deco Augusto e Ivan Ribeiro
Intérprete: Tinga

Enredo CEP que o Povo do Samba traz para 2019 exaltando Petrópolis, com um samba apenas de razoável para bom. E olha que estamos falando de uma obra que é assinada por craques como André Diniz e Evandro Bocão - que acabou mexida desde as eliminatórias e a final e piorou depois das modificações.

Mas cabe esperar pelo trabalho de barracão que será feito pelo excelente Edson Pereira, que já mostrou seu valor em carnavais muito bons no Grupo de Acesso (Série A) e já trabalhou como assistente de Alexandre Louzada na Mocidade. Com uma estrutura hoje sólida financeiramente, a Vila está tranquila no que diz respeito à sua estrutura de desfile - tanto que até trouxe de volta o intérprete Tinga, que defendia a Unidos da Tijuca. 

A bateria Swingueira de Noel, agora sob o comando de Macaco Branco, após a polêmica passagem de Chuvisco pela azul e branco, parece também retomar a velha forma. A conferir no desfile principal.

PORTELA
Enredo: Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Compositores: Jorge do Batuke, Waltinho Botafogo, Rogério Lobo, Beto Aquino, Claudinho Oliveira, José Carlos, Zé Miranda, D' Sousa e Araguaci
Intérprete: Gilsinho

Clara Nunes finalmente é enredo da escola do coração, que a abraçou quando começou a decolar na carreira, no início dos anos 1970. Trinta e seis anos depois da morte de uma das maiores cantoras que este país teve a oportunidade de conhecer, a "Sabiá" será cantada pela Portela com toda devoção e emoção no Carnaval de 2019.

Tenho certeza que os portelenses sentem cheiro de gol e a chance é grande, naquele que pode ser o último carnaval de Rosa Magalhães na Marquês de Sapucaí (aliás, independentemente de título ou não, a artista está fora da escola em 2020).  O samba de Jorge do Batuke e parceiros ganhou a quadra desde as primeiras eliminatórias e era a chamada "pule de 10", não tinha como perder e não perdeu na final.

Ouvi o samba pela primeira vez após a vitória, cantado por Zé Paulo Sierra no Baródromo - e eu adorei a entonação do refrão ao fim da segunda (parte), que lembrava o jeito que Clara Nunes cantava o samba "Guerreira" ("Sou a mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã..."). Na voz do intérprete oficial, Gilsinho, o tom adotado foi mais de emoção, mais pra cima. Faz parte...

E é um samba que tem como característica a descrição em primeira pessoa, e que é a cara da Portela, como "Xangô" é a cara do Salgueiro - embora eu saiba que muitos torçam o nariz pra ele. Paciência... 

Eu sou suspeito: amo de paixão a cantora Clara Nunes e minha mãe é portelense. Na falta de chances da Imperatriz, torço pelo título da Portela.

UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
Enredo: A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu
Carnavalesco: Severo Luzardo
Compositores: Myngal, Marcelão da Ilha, Roger Linhares, Marinho, Cap. Barreto, Eli Doutor, Fernando Nicola e Marco Moreno
Intérprete: Ito Melodia

Muitos são críticos ao samba da União da Ilha, apontando-o disparadamente como o pior entre os inéditos, descontando o samba que não é samba do Império Serrano (acho os de Grande Rio e Beija-Flor ainda piores). Outros apontam o dedo para as escolhas da própria agremiação, que muitos dizem não saber mais escolher direito suas obras que vão para a avenida.

E num ano difícil e com alguns excelentes sambas, realmente a Ilha foi aquém de suas possibilidades. A proposta de enredo do carnavalesco Severo Luzardo é muito boa - e é um achado homenagear o Ceará puxando pelo lado poético e cultural, falando em Rachel de Queiroz e José de Alencar, ícones do estado nordestino. Mas... não foi brindado infelizmente com um grande samba.

Só que a Ilha tão criticada surpreendeu positivamente ao escriba aqui no ensaio técnico. Vi uma escola cantando forte o samba, que treinou animada e com uma bateria simplesmente espetacular. A Baterilha fez um belíssimo trabalho e está de parabéns. Mas notei também uma queda nos setores finais, que até pode ser encarada como natural - mas que pode ser um complicador para quem é apontada como uma das possíveis candidatas a rebaixamento.

PARAÍSO DO TUIUTI
Entedo: O Salvador da Pátria
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
Compositores: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Aníbal, Zezé e Jurandir
Intérpretes: Celsinho Mody e Grazzi Brasil

Disposta a mostrar que o vice-campeonato do Grupo Especial no ano passado, após um desfile tão emocionante quanto sensacional e surpreendente, a Paraíso do Tuiuti quer pisar na avenida para mais uma vez dar o seu recado na Sapucaí.

Novamente Jack Vasconcelos propõe um enredo panfletário com obra encomendada e assinada por Cláudio Russo e Moacyr Luz. Não chega a ter o mesmo brilhantismo do samba de 2018, mas é igualmente excelente, empolgante, pega na veia e pelo visto o Tuiuti vem de novo meter o dedo em feridas que insistem em se manter abertas.

E eu vejo um ponto muito positivo no crescimento da escola de São Cristóvão, que é a afirmação da excelente cantora Grazzi Brasil como intérprete de avenida e de Celsinho Mody. Foi um achado a permanência de ambos em detrimento do discutível Nino do Milênio - e há quem diga que um dia a Grazzi vai ser intérprete principal sozinha. Será?

O que muito se discute do enredo e do samba é que o Bode Ioiô, eleito vereador em 1922 no Ceará e chamado de "O Salvador da Pátria" seja uma metáfora para se citar o ex-presidente Lula, do mesmo modo que a novela global que teve Lima Duarte interpretando o inesquecível boia-fria Sassá Mutema, foi apontada como panfletária e pró-Lula às vésperas da eleição presidencial de 1989. 

Críticas e alusões a parte, temos tudo para assistir a mais um grande desfile do Tuiuti.

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
Enredo: Histórias para ninar gente grande
Carnavalesco: Leandro Vieira
Compositores: Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Márcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino
Intérprete: Marquinho Art'Samba

Leandro Vieira é um gênio do Carnaval do Rio de Janeiro. Quem presta atenção em suas propostas recentes de enredo já teve a dimensão exata do que ele tem feito em termos de trabalhos estéticos, alegóricos e, principalmente, de propor discussões.

O que o enredo da Mangueira nos traz para 2019 é a desconstrução de alguns mitos da história do país. Virando os livros pelo avesso, o Leandro nos aponta os reais heróis e heroínas de um país tão carente e que, cultural, política e sociologicamente, passa por um dos períodos mais nefastos dos últimos tempos.

O samba composto por Deivid Domênico e parceiros é uma porrada. Me emocionou de saída na gravação da demo com a doce menina Cacá, que estava (ou está, já que não assisto) no The Voice Kids, da RGT ao lado do Wantuir. Já era dentre as obras que concorriam nas 14 escolas do Especial, a mais falada e comentada. Ganhou a disputa e caiu no gosto dos bambas. No Baródromo, a cada vez que é executado pelo Grupo Arquibancada, é urrado por todos os presentes na casa sediada na Lapa.

Enfim... se os sambas-enredo tivessem a mesma penetração midiática que já tiveram nos anos 1980 - e a própria LIESA tem culpa no cartório, assim como as próprias escolas - a Mangueira seria pule de dez entre as mais ouvidas não só no Rio como no Brasil inteiro.

O Carnaval precisa de mais cabeças como a de Leandro Vieira. Precisa de mais sambas como o da Mangueira. Pra nos fazer acordar e ver que os livros de história nem sempre apontam a verdade e muito menos nos dizem quem foram aqueles que lutaram para que o Brasil existisse. Que nesse período de trevas, a Velha Manga nos traga luz, nos emocione e nos faça crer que o samba ainda pulsa nas nossas veias como um instrumento de protesto e comoção social.

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Enredo: Eu sou o tempo. Tempo é vida
Carnavalesco: Alexandre Louzada
Compositores: Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit Stop, Orlando Ambrosio, Cabeça do Ajax
Intérprete: Wander Pires

Elza Soares, que será enredo da verde e branco de Padre Miguel em 2020, com seu timbre característico, apesar dos seus 88 anos vividos e sofridos, abre a faixa da última escola que desfilará na Sapucaí em 2019, fechando o Grupo Especial. É um bonito samba o eleito pela Mocidade, composto por Jefinho Rodrigues e parceiros. Mas confesso que gosto muito mais dos dois últimos, em especial o do título dividido de forma polêmica com a Portela ano retrasado.

A agremiação da Zona Oeste renasceu após tempos difíceis, flertando com o Grupo de Acesso, e parece disposta a repetir os bons carnavais dos últimos dois anos. Mas a Mocidade esbarra num problema: se a Mangueira for o rolo compressor que se aguarda, a tendência é que a expectativa pelo carnaval que será mais uma vez concebido por Alexandre Louzada, pode diminuir assim como a presença de público na Sapucaí.

Só que a escola tem, além de um belo samba, um dos cinco melhores do ano - no meu gosto pessoal - quesitos capazes de fazê-la brigar lá na frente. Se a bateria "Não existe mais quente" for bem julgada e os responsáveis pelas notas estiverem de bom humor, só na parte relativa à música, a chance é grande de 80 pontos. Aí temos que ver como vem a parte estética e a Mocidade era uma das escolas mais atrasadas de barracão. Mas Louzada garante que tudo estará pronto a contento e acho que veremos um belo espetáculo de encerramento do desfile deste ano.














sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Carnaval 2019 - os sambas do Grupo de Acesso

Ano passado, a campeã do Grupo de Acesso foi a Unidos do Viradouro. Quem será a vencedora em 2019? A parada é difícil, pois há bons sambas. Mas o momento de crise pelo qual passa o carnaval pode refletir nos desfiles

Muito tempo depois da última atualização, o Saco de Gatos ressurge com uma postagem sobre Carnaval.

Pois é... muitos podem não gostar da folia momesca. Mas eu gosto. É uma das maiores manifestações de arte e cultura deste país. E muito embora venha sendo vilipendiada e maltratada, principalmente pela prefeitura neopentecostal do pífio Marcelo Crivella, a festa aqui no Rio de Janeiro ainda atrai turistas e visibilidade para a outrora Cidade Maravilhosa.

E em tempos onde o Carnaval e o samba-enredo como gênero musical estão de mal com o Brasil e com o povo do Rio de Janeiro, cada vez mais sectário, medíocre, bitolado e atrasado, o gênero agoniza, mas não morre.

A safra de 2019 no Grupo de Acesso (Série A) que desfila em dois dias, no início de março, nos traz enredos alentados, obras muito boas e uma reedição patrocinada pela volta da Unidos da Ponte à Marquês de Sapucaí.

Sem perda de tempo, seguem abaixo as 13 agremiações que vão lutar por uma vaga no Grupo Especial para o Carnaval de 2020, por ordem de apresentação na Marquês de Sapucaí - e não na ordem do CD mais uma vez produzido por Leonardo Bessa.

UNIDOS DA PONTE
Enredo: Oferendas
Carnavalescos: Guilherme Diniz e Rodrigo Marques
Compositor: Jorginho
Intérpretes: Lico Monteiro e Tiganá

Campeã do Grupo B em 2018 na Intendente Magalhães, a Unidos da Ponte aposta num dos grandes sambas de sua alentada safra dos anos 1980 para permanecer na Marquês de Sapucaí, onde chegou a figurar por muito tempo na Elite e no Grupo de Acesso. "Oferendas" foi a obra do desfile de 1984 onde, mesmo com a escola rebaixada ao então Grupo 1-B, o samba agradou por sua excepcional cadência na oportunidade.

Contudo, a gravação não está à altura do que se (ou)viu com Grilo na condução do samba de Jorginho. Por mais que Tiganá e Lico Monteiro se esforcem - com direito a um alusivo longuíssimo - a versão 2019 é menos inspirada do que a original, embora houvesse uma tentativa de deixar a obra o mais próxima possível em termos de cadência. Sobre o samba como um todo, não é necessária qualquer avaliação, já que é uma reedição. É nele em que a Ponte e a turma de São João de Meriti se agarra para permanecer mais um ano na Série A.

ALEGRIA DA ZONA SUL
Enredo: Saravá, Umbanda!
Carnavalesco: Marco Antônio Falleiros
Compositores: Márcio André, Neyzinho do Cavaco, Lopita 77, Ribeirinho, Elson Ramires, Beto Rocha, Telmo Augusto, Fábio Xavier, China, Girão e Samir Trindade
Intérprete: Igor Vianna

A agremiação que congrega as comunidades do Cantagalo e Pavão/Pavãozinho segue, apesar de algumas dificuldades, firme na Série A com boas posições nos últimos desfiles. A expectativa é que a Alegria da Zona Sul mantenha os mesmos objetivos, embora a obra para 2019 não tenha a mesma qualidade que o samba do último desfile, que rendeu à escola um bom 8º lugar.

O samba de Márcio André, Samir Trindade e cia., com direito à participação de integrantes de parcerias vencedoras noutras agremiações em carnavais passados, é apenas regular - há quem diga que animado demais para falar de Umbanda. Sobre a interpretação, sem comentários adicionais: Igor Vianna está muito à vontade na gravação da faixa.

ACADÊMICOS DA ROCINHA
Enredo: Bananas Para o Preconceito
Carnavalesco: Júnior Pernambucano
Compositores: Cláudio Russo, Diego Nicolau, Renato Galante, Kirrazinho, Ralf e Fadico
Intérprete: Ciganerey

Um tema sempre necessário e atual no Carnaval, o preconceito é abordado com muita propriedade na proposta de enredo de Júnior Pernambucano para o carnaval da Acadêmicos da Rocinha. Muito oportuno também, por conta de tudo o que vivemos e viveremos no futuro. Melhor pular essa parte para não entrar numa seara, digamos, nebulosa...

Apesar de bons momentos indiscutíveis, especialmente na primeira estrofe e no refrão principal, o samba de craques como Cláudio Russo e Diego Nicolau é bom - porém, um pouco distante de outros que considero superiores. Num primeiro momento, achava esse samba da Borboleta um dos melhores para o ano de 2019, mas a cada audição, mudei de opinião. Com o reforço de Ciganerey (um tanto quanto contido na gravação), dispensado pela Mangueira, no carro de som, veremos como a Rocinha se sairá neste carnaval.

ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ
Enredo: Ruth de Souza - Senhora Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Compositores: Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda
Intérprete: Roninho (Participação Especial: Xande de Pilares)

A Santa Cruz não tinha enredo, não tinha samba, não tinha nada. Isso até o fim do primeiro semestre de 2018. Em agosto, veio o anúncio da chegada do carnavalesco Cahê Rodrigues, que sugeriu um enredo sobre a atriz Ruth de Souza, uma das primeiras negras a subir no palco do Teatro Municipal para a encenação de "Imperador Jones", de Eugene O'Neill, em 1945.

A carioca de 97 anos recebe da escola da Zona Oeste uma homenagem à altura de sua carreira. Aliás, para o meu conceito, o melhor samba do Grupo de Acesso - mesmo sendo encomendado à Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda, a toque de caixa.

De rica trajetória no teatro, cinema e televisão, a Dama Negra é homenageada com um samba de formato tradicional e de letra excepcional, com momentos emocionantes e uma referência ao enredo "Heróis da Resistência", apresentado pela agremiação nos anos 1990. Roninho divide a ótima gravação com Xande de Pilares, que acabou convidado pelo presidente Zezo para dar mais um 'molho' a um samba que tem tudo para acontecer na Sapucaí.

O problema é justamente este: a enorme expectativa se transformar em decepção, diante do histórico de más colocações nos recentes desfiles da escola.

UNIDOS DE PADRE MIGUEL
Enredo: Qualquer Semelhança Não Terá Sido Mera Coincidência
Carnavalesco: João Victor Araújo
Compositores: Jefinho Rodrigues, Igor Leal, Jonas Marques, Wagner Santos, Gulle, Eli Penteado, Roni Pit Stop e Ruth Labre
Intérprete: Pixulé

"Qualquer Semelhança Terá Sido Mera Coincidência": quem nunca, ao final das novelas da Rede Globo, nunca leu algo semelhante nos créditos finais da maioria dos folhetins apresentados pela referida emissora carioca por muito tempo?

Pois é... a Unidos de Padre Miguel, cansada de bater na trave nos últimos anos, aposta numa bem-sacada homenagem a Dias Gomes, para buscar o sonhado título rumo ao Grupo Especial em 2020. A agremiação da Vila Vintém tem um bom samba de Jefinho Rodrigues e parceiros para tentar superar as outras 12 escolas concorrentes - muito embora a melodia seja muito parecida com as obras dos últimos dois anos.

É preciso fazer justiça, principalmente, que a letra cita personagens e obras do dramaturgo baiano sem apelar a clichês e lugares-comuns, como o samba em que sua primeira mulher, Janete Clair, foi homenageada pelo Leão de Nova Iguaçu em 1992. E principalmente que a letra casou de forma perfeita com o momento atual vivido neste país. Basta prestar atenção na mensagem passada pelos compositores e pelo enredo.

Um samba forte, não tão à altura da obra-prima apresentada em 2017, mas que pode muito bem levar a UPM ao tão esperado "final feliz" do refrão.

INOCENTES DE BELFORD ROXO
Enredo: O Frasco do Bandoleiro (baseado num causo com a boca na botija)
Carnavalesco: Marcus Ferreira
Compositores: André Diniz e Cláudio Russo
Intérprete: Nino do Milênio

Este é uma incógnita entre os sambas da safra de 2019. Carrega a assinatura de André Diniz e Cláudio Russo, com a escola da Baixada Fluminense recorrendo a (mais uma) obra encomendada.

Mas apesar da grife, não gosto. Princpalmente por conta do intérprete. Nino do Milênio é muito, muito chato. Perdoem-me quem gosta do referido cantor, mas eu não consigo gostar. No Tuiuti, ano passado, foi simplesmente engolido no desfile principal pelos demais integrantes do carro de som. Logo após o Desfile das Campeãs, foi preterido por Grazzi Brasil e Celsinho Moddy.

E em seu retorno à escola, não consegue dar um destaque maior a um samba confuso, de melodia estranha. Se a Inocentes chegar perto do 4º lugar alcançado em 2018, parabéns.

ACADÊMICOS DO SOSSEGO
Enredo: Não Se Meta Com Minha Fé, Acredito em Quem Quiser
Carnavalesco: Leandro Valente
Compositores: Felipe Filósofo, Orlando Ambrosio, Michel do Alto, Sergio Joca, Fabio Borges, Serginho Rocco, W. Motta, Ademir Ribeiro, Diego Tavares, Mário da Vila, Gilmar Silva e Lucas Donato
Intérpretes: Guto e Juliana Pagung

Quantidade nem sempre significa qualidade e muito menos excelência em samba-enredo. Para a obra de 2019, a Acadêmicos do Sossego - que se salvou do rebaixamento por conta de outra virada de mesa - conta com nada menos que 12 compositores de uma das obras mais fracas do ano.

Acho válida a tentativa de fazer alguma coisa diferente em termos de estrutura de letra. Ano passado, o bom samba "Ritualis" não tinha verbo. O deste ano não tem rima. Mas até aí, morreu o neves: "Raízes", clássico da Vila Isabel de 1987, que tinha Martinho da Vila na parceria, também usou deste recurso e foi muito mais bem sucedido que a parceria encabeçada por Felipe Filósofo e por Lucas Donato, sobrinho do saudoso Roberto Ribeiro.

Até que o novato Guto, egresso do carnaval de Nova Friburgo e Juliana Pagung, guindada do carro de som da Mocidade Independente de Padre Miguel, não comprometem. Mas a obra da escola do Largo da Batalha, em Niterói, soa irregular e um tanto quanto estranha.

Por falar na Sossego, a escola já apresentou sua parcela de polêmica para o carnaval 2019. Ela apresentará uma alegoria de um demônio com traços que lembram muito o prefeito carioca Marcelo Crivella. 

Qualquer semelhança...

UNIDOS DE BANGU
Enredo: Do Ventre da Terra, Raízes Para o Mundo
Carnavalescos: Alex de Oliveira e Edson Pereira
Compositores: Samir Trindade, André Kaballa, Márcio de Deus, Wellington Amaro, Paulinho Ferreira, Henrique Costa, Fabio Fonseca, Fabio Martins, Neizinho, Julio Assis, Marlon P. e Vinícius Sombra
Intérpretes: Tem-Tem Jr. e Luis Oliveira

Após se segurar na Sapucaí para o carnaval de 2019, a Unidos de Bangu abrirá o desfile do sábado com outro samba que também deixa um pouco a desejar na safra da Série A. O enredo já não ajuda muito, embora a escola da Zona Oeste até esteja bem servida de carnavalescos. Mas quando o tema é a... batata (!), fica difícil defender.

Daí a sinopse não ajuda muito e a obra, que conta com 12 compositores - igualzinho à Sossego - não diz nada com nada. Será uma tarefa árdua para os banguenses e principalmente para os novatos intérpretes Tem-Tem Jr. e Luis Oliveira, que até deram o seu melhor num samba muito bem gravado no CD. Mas no geral, é uma obra abaixo da maioria.

RENASCER DE JACAREPAGUÁ
Enredo: Dois de Fevereiro no Rio Vermelho
Carnavalescos: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Compositores: Moacyr Luz, Cláudio Russo e Diego Nicolau
Intérprete: Diego Nicolau

Sexto ano de sambas encomendados à dupla Moacyr Luz/Cláudio Russo, desta vez com Diego Nicolau participando da composição - e o resultado não poderia ser outro: mais uma obra espetacular para a Renascer de Jacarepaguá desfilar na Marquês de Sapucaí.

Enredos sobre Bahia normalmente são repletos de clichês, mas - por mais que alguns deles estejam aqui presentes, o samba é muito bom. Tem ótimos refrães e um meio de primeira parte realmente muito bonito e inspirado, na referência à Gabriela. E Diego Nicolau dá um show na gravação, na melhor performance de qualquer intérprete neste disco.

Obra propícia para a excelente bateria da Renascer deitar e rolar na avenida.

ESTÁCIO DE SÁ
Enredo: A Fé Que Emerge das Águas
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Compositores: Alexandre Naval, Edson Marinho, Tinga, Jorge Xavier, Luiz Sapatinho, Cláudio, Álvaro Roberto, Alexandre Moraes, Hugo Bruno e Júlio Alves
Intérprete: Serginho do Porto

Samba de excelente sinopse de autoria de Daniel Targueta, a obra estaciana para 2019 pode ser uma das boas surpresas do desfile. Inspirado na festa do Cristo Negro do Panamá, o enredo do carnavalesco Tarcísio Zanon ganhou uma obra que a princípio parecia resvalar no meio-termo, mas que com as devidas mudanças cresceu e ficou muito interessante.

Apesar dos clichês religiosos, tem belíssimos momentos - sem contar a boa interpretação de Serginho do Porto. Resta ver se no retorno de Mestre Chuvisco à frente da bateria da agremiação vermelha e branca, se o samba terá a sustentação de ritmo e cadência necessários para ser bem defendido pelos componentes e entendido pelo público na avenida.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA
Enredo: Antônio Pitanga, Um Negro em Movimento
Carnavalesco: Jaime Cezário
Compositores: Bira, Claudinho Guimarães, Duda SG, Márcio Rangel, Alexandre Vilela, Guilherme Andrade, Adelyr, Bruno Soares, Rafael Raçudo, Paulo Borges, Oscar Bessa e Eric Costa
Intérprete: Luizinho Andanças

A Porto da Pedra foi protagonista de um dos maiores equívocos para o carnaval 2019. Tudo porque a agremiação de São Gonçalo abriu mão da obra apresentada pela parceria de Altay Veloso, Zé Glória e Paulo César Feital, que disparadamente era não só o melhor samba do Grupo de Acesso como também de todo o carnaval do Rio de Janeiro para este ano.

E até parecia favas contadas no anúncio do enredo que o samba seria este, pois houve o rumor que não haveria disputa. O homenageado Antônio Pitanga deixou-se fotografar com Feital e Altay no lançamento do enredo, mas a diretoria da Porto da Pedra decidiu pelas eliminatórias. E na final, a surpresa: foi escolhida a obra de Bira, Claudinho Guimarães e parceiros.

Num primeiro momento, até gostei do samba vencedor - muito bem defendido por Evandro Malandro na demo (aliás e a propósito), mas depois de muitas outras audições com o intérprete Luizinho Andanças, já não me agrada tanto.

Em termos de impacto e importância, o samba derrotado era disparado muito, mas muito melhor. Enfim... veremos na apuração o desfecho dessa escolha.

IMPÉRIO DA TIJUCA
Enredo: Império do Café, o Vale da Esperança!
Carnavalesco: Jorge Caribé
Compositores: Diego Nicolau, Tinga, Pixulé, Jota e Braguinha Cromadinho
Intérprete: Daniel Silva

Samba com grife - tem Tinga, Pixulé e Diego Nicolau na parceria - acaba sendo outra das boas surpresas da safra de 2019.

Para falar da saga do Vale do Café, formada por 15 municípios do Rio de Janeiro, apela para as referências um tanto quanto batidas do trabalho escravo dos negros africanos - o que não pode ser omitido - mas a composição guarda belos momentos e dois ótimos refrães.

Desnecessária a "lacração" ao falar de agronegócio na última frase da segunda parte. Mas no geral, é uma obra muito agradável. E Daniel Silva é um dos cantores da nova geração que me agrada bastante com seu timbre grave bem característico.

ACADÊMICOS DO CUBANGO
Enredo: Igbá Cubango - A Alma das Coisas e a Arte dos Milagres
Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Compositores: Robson Ramos, Sardinha, Duda Tonon, Anderson Lemos, Altinho, Sérgio Careca, Carlão do Caranguejo e Samir Trindade
Intérprete: Thiago Brito

O fechamento do desfile de 2019 promete muita emoção. A Acadêmicos do Cubango nos oferta mais um belo enredo à altura das tradições da verde e branco de Niterói, com referências a sortilégios, milagres, amuletos e fé - de temática afro e com uma merecida homenagem ao lendário enredo "Afoxé", campeão do carnaval niteroiense há 40 anos.

Gozado que no começo não gostei muito da gravação - não pela presença do intérprete Thiago Brito, muito pelo contrário - mas da produção em si. Não a achei à altura da obra num primeiro momento. E desgostei um pouco do samba quando vi que a segunda parte da letra (praticamente toda), bem como alguns outros trechos, fora clamorosamente mexida em relação à obra original de Sardinha e parceiros, gravada na demo por Tinga e Diego Nicolau.

Mas é aquela história: você escuta, uma, duas, cinco, dez vezes, e passa a gostar do samba. E ele realmente é bom, muito bom. Se pegar na avenida, pode ser um "sacode" para quem sabe conduzir Cubango ao desfile principal, que nunca a escola visitou - o oposto da Viradouro, que já foi inclusive campeã em 1997.

E um pequeno aparte: guardem os nomes dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Os dois já fizeram ano passado um excepcional trabalho no enredo alusivo a Arthur Bispo do Rosário. Daqui a pouco, vai ter escola do Especial disputando os dois a tapa.


domingo, 20 de julho de 2014

Lições desaprendidas, o retorno

Inacreditável, mas ele vai voltar...

Nem Tite, muito menos um nome do exterior. A seleção brasileira terá novamente um velho conhecido do público em seu comando a partir da próxima terça-feira. Uma entrevista coletiva deve anunciar o nome de Dunga para regressar ao cargo que foi seu desde a saída de Carlos Alberto Parreira até a derrota diante da Holanda, na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

Em que pese o bom retrospecto de Dunga, não é o que a seleção precisava neste momento. Todos - torcedores e imprensa - clamando por uma renovação da estrutura do futebol brasileiro a partir das divisões de base e, após a saída de Luiz Felipe Scolari, os erros continuam e a irritação do público só aumenta. Ninguém engoliu o aumento de poder a Alexandre Gallo, muito menos a contratação de Gilmar Rinaldi como o coordenador de seleções da CBF. O mesmo Gilmar Rinaldi que, na coletiva realizada nesta última semana, fez questão de esclarecer que não é mais empresário de jogadores. E por que fez questão de afirmar isto com veemência? Quem não deve, não teme, não é mesmo?

Gilmar foi companheiro de Dunga como jogador no Internacional e na seleção brasileira. E foi esse passado que provavelmente influenciou na decisão do retorno dessa polêmica personagem ao centro das atenções. Como muita gente sabe, Dunga incomodou muita gente - principalmente na Rede Globo - pelos privilégios que a emissora deixou de ter ao longo da Copa do Mundo de 2010. Não deixa de ser irônico que o grande inimigo daquela ocasião esteja de volta. E para quem diz que a CBF abre as pernas para a emissora carioca, a volta de Dunga soa como um soco, daqueles bem doloridos, bem no meio das partes baixas.

Só não sei se realmente é o que esperávamos. Aliás, acho que ninguém contava com essa. A vinda de Tite só aumentaria o "cordão" de gaúchos que tomaram conta do comando técnico da seleção desde 2001, com exceção da vinda de Carlos Alberto Parreira, um carioca. A volta de Dunga, mais do que dar continuidade à "República dos Pampas", é um retrocesso. O Brasil está ridicularizado após o 7 x 1 sofrido em seus próprios domínios diante da Alemanha e não é Dunga quem vai recuperar o moral da seleção.

Cabe lembrar que em 2010, embora - repito - tenha tido um bom retrospecto até a derrota diante da Holanda, morreu abraçado a jogadores como Felipe Melo, em quem depositava todas as suas fichas e em suas convicções, abrindo mão de Neymar e PH Ganso, que poderiam ser boas opções no banco de reservas. Tal como Scolari, Dunga não tinha alternativas em seu time. Alguns dos jogadores que ele levou  para aquele Mundial são dignos de risada. 

Enfim, é isso. Parabéns (só que não) a José Maria Marín e Marco Polo Del Nero, os mandatários da CBF, pela teimosia e pela inoperância de não mexer na estrutura e não ousar trazer um técnico estrangeiro. Venceu o corporativismo. Venceu a ignorância. Venceu o comodismo.

O preço poderá ser muito caro: poderemos ver o Brasil fora de uma Copa do Mundo brevemente. É só continuarem com os erros que isso vai acontecer.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Lições (des)aprendidas

Em 29 de novembro de 2012, este blog cantou a pedra. Parecia que eu estava adivinhando o desfecho da campanha da seleção brasileira na Copa de 2014, sob o comando de Scolari e Parreira. O acachapante 7 x 1 que a Alemanha impôs em Belo Horizonte, no maior vexame da história de mais de 100 anos do Brasil no futebol, nos dá mais uma lição que insistimos em não aprender.

Klose, 16 gols em Copas. Ronaldo mereceu ter o recorde quebrado, por tudo o que fez e fala fora dos gramados
Os sintomas de que alguma coisa está muito errada - e faz tempo - estão aí para todo mundo ver. O Santos, não satisfeito em levar um 4 x 0 do Barcelona na final do Mundial de Clubes, levou oito num amistoso, ano passado. O Internacional perdeu para o canhestro Mazembe, da República Democrática do Congo. E o Atlético-MG foi impiedosamente derrotado pelo Raja Casablanca na semifinal do Mundial de Clubes. Sem contar que na atual edição da Copa Bridgestone Libertadores, não há nenhum clube do país entre os quatro finalistas. Enchiam a boca os entendidos para exaltar a presença de Cruzeiro, Flamengo e do próprio Atlético e todos ficaram pelo caminho, em meio a derrotas e campanhas pífias.

Vamos combinar também que o Campeonato Brasileiro não é dos mais atrativos também. Ingressos caros num país de salário mínimo de R$ 670 desmotivam o torcedor, que prefere ficar em casa - já que as partidas são transmitidas (quase todas) pela televisão, atendendo sempre aos critérios da Globo, que prefere dar ibope a Corinthians e Flamengo do que transmitir partidas de acordo com a importância das mesmas na classificação do campeonato. Como efeito, as médias de público decaem e dos principais centros do futebol mundial - é claro - o Brasil não figura com um clube sequer entre os principais campeões de renda no planeta.

E aí entra em cena a Alemanha, de novo.

O 7 x 1, o "Mineirazo", é uma vergonha pra ninguém botar defeito. Deveria servir de lição, mas...
Alemanha que nos massacrou terça-feira, que nos impingiu um banho de bola como poucas vezes eu vi uma seleção fazer em cima do Brasil. Esqueçam o Maracanazo de 1950 no quesito vergonha. Esqueçam o 3 x 0 de Saint-Denis em 1998, dos gols do Zidane e da convulsão do Ronaldo. Vergonha? Vergonha foi isso que todo mundo viu em HD e rede mundial, para deixar qualquer um sem saber onde enfiar a cara. E podia ser de muito mais do que sete: ao fim do primeiro tempo, 5 x 0 a favor no placar, os próprios jogadores alemães - em RESPEITO aos torcedores e à história da seleção brasileira - tiraram o pé. Afinal, para que o esforço se o resultado já os punha na decisão? Schurrle fez mais dois, mas entende-se: entrou para mostrar serviço ao técnico Joachim Löw. Mas os alemães já tinham feito o estrago e nem o gol de Oscar atenuou o vexame.

Os nossos adversários da semifinal, velhos conhecidos de Copas do Mundo, com 13 semifinais e agora oito decisões no currículo, também tiveram suas lições para aprender. E aprenderam. Foram espiaçados pela Croácia, uma nação estreante, com um sonoro 3 x 0 na Copa de 1998. Caíram fora da Euro 2000 logo na primeira fase. A Deutsche Füssball Bund acordou para a vida e percebeu que, se não houvesse uma reformulação, os alemães perderiam o prumo no futebol mundial.

Em 2002, um time mesclando jogadores de técnica duvidosa - alguns até inexpressivos - a veteranos como Bierhoff, um solitário craque (Michael Ballack) e um desconhecido e predestinado atacante, chamado Miroslav Klose, conseguiu ir além do que se esperava e perdeu para o próprio Brasil na final em Yokohama. E o que se viu depois disso? Mais três semifinais consecutivas, com dois 3ºs lugares e um vice da Eurocopa de 2008. Afora a constância, uma geração formidável de jogadores surgiu na base e o resultado está aí.

Os próprios clubes do país se fortaleceram, a Bundesliga hoje é uma das ligas mais valorizadas da Europa e do futebol mundial e temos visto, com frequência irritante, Bayern de Munique e Borussia Dortmund entre as melhores equipes do continente, com jogadores excelentes e futebol bem jogado, dinâmico, pra frente. 

Parece o Brasil, não é mesmo? Só que não.

Em vez de melhorar, dar passos à frente, queremos retroceder. Fala-se de Tite para 2018. Pode ser um vencedor, no que não discordo, mas a mentalidade dele não difere muito dos que lá estiveram na seleção - Dunga, Mano, Felipão - todos, por sinal, gaúchos. Nada contra o povo do Rio Grande do Sul, mas chega! Está na hora de RENOVAÇÃO. De REFORMULAÇÃO. De RECRIAÇÃO.

Querem o quê? Que a seleção fique fora da Copa de 2018? 

O problema está na mentalidade retrógrada dos abjetos donos do poder que se mantém na CBF. O filhote da ditadura e Muttley nas horas vagas José Maria Marin e seu futuro sucessor, Marco Polo del Nero, numa ciranda na qual quem roda, de verdade, é o futebol brasileiro. Roda, roda e não sai do lugar.

Marin é refratário à ideia de um técnico estrangeiro, o que seria tremendamente saudável para a seleção brasileira. Que se dane a barreira do idioma. Por que não arejar as ideias com gente nova, capaz de trazer propostas ousadas e devolver ao futebol brasileiro o talento que tem faltado? As divisões de base, mais do que uma mina de ouro onde empresários inescrupulosos garimpam falsos craques a preço de banana, são de uma aridez desértica em termos de talento. 

Quem tivemos, de natureza excepcional, nos últimos 10 anos no futebol brasileiro? O Neymar. E paramos por aqui! Não existe renovação, não existe a busca do craque. Bom mesmo é formar jogadores altos, de defesa ou volantes, de preferência de muita correria e obediência tática. Craques? Esqueçam. Ninguém se preocupa com eles.

O único culpado? Menos... MUITO menos
E aí, nós vamos discutir a seleção brasileira do Scolari, em que a culpa do fracasso desta Copa, ao invés de recair em quem convoca e quem escala, fica nas costas de um único jogador, que foi sacaneado sucessivamente por todo mundo. Claro que falo do Fred.

Acusa-se o Fred de ser poste, cone, bosta, inútil, imóvel e o cacete a quatro. Mas esse mundo é engraçado: em 2013, TODO MUNDO gritava "O Fred vai te pegar" após cada gol marcado contra - vejam bem os adversários - Itália, Uruguai e Espanha. Alguma coisa aconteceu de errado em 365 dias, porque o meio-campo da seleção inexistiu em TODA a Copa (Oscar é um morto e Hulk é ridículo) e Neymar jogou mais recuado, para conduzir a bola vindo de trás e o camisa #10 apelava mais para o individualismo do que qualquer outra coisa. Aí, meus caros, centroavante morre de fome se a bola não chega a ponto de que se marque um gol. E Fred fez só um. E Fred foi considerado o culpado por tudo. Até pela fratura da 3ª vértebra da coluna do Neymar.

Explicar o inexplicável? Tenta a sorte, Scolari...
Acho uma sacanagem imputar a culpa ao jogador, como se fosse o único. Perderam TODOS. Todos os 23 convocados, toda a comissão técnica - que depois nos ofertou um espetáculo de empáfia, soberba e arrogância numa entrevista coletiva das mais patéticas que já existiram - e a Confederação Brasileira de Futebol. O esporte é coletivo e não individual. Parem com essa perseguição idiota, que beira o clubismo. Fica claro que, para quase todo mundo, Fred é um pária porque veste a camisa do Fluminense, hoje odiado pela grande maioria dos torcedores dos clubes rivais.

Essa é mais uma lição que infelizmente deixamos de aprender. A Copa não foi perdida só porque o Fred não fez os gols que deveria fazer. Foi perdida a partir do momento em que se entregou de volta o comando da seleção a Felipão e Parreira. Perdeu-se a grande chance de uma renovação e de uma reinvenção que poderia ter rendido frutos ou, talvez, uma derrota muito menos vexaminosa que o Mineirazo de 8 de julho.

O 7 x 1 deveria sacudir as estruturas do futebol brasileiro. Da base da pirâmide até o topo. Mas o que eles querem?, pergunto novamente, como fiz em 2012: atingir o fundo do poço?

A soberba e a presunção nos fizeram cair fora em 1974 quando Zagallo fez troça da Holanda; perdemos em 1982 porque não soubemos segurar um resultado de empate; caímos fora em 1986 porque quem deveria cobrar o pênalti no tempo normal amarelou; perdemos em 1990 porque começamos a dar as costas para a essência do nosso futebol; fomos eliminados em 2006 porque o oba-oba deu a tônica desde a preparação em Weggis e o ego dominava aquela seleção e, finalmente, nos mandaram pra casa mais cedo em 2010 porque não tivemos equilíbrio e força para reagir após a virada dos holandeses.

Não vou me estender mais no assunto. Afinal, quem sou eu para desagradar a Dona Lúcia, não é mesmo?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Bendito, Benedito, Bem dito Assis, o "Carrasco"

Bendito o dia em que Benedito pisou nas Laranjeiras em 1983.


Benditos aqueles que enxergaram, em dois negros espigados, magros, altos e que tinham química, uma simbiose como poucas vezes vimos no futebol brasileiro nos últimos anos.

Benditos os gols marcados por essa dupla, logo chamada de "Casal 20", alusão muito bem-humorada ao seriado global estrelado por Robert Wagner e Stephanie Powers - que em tempos modernos de cyberbulling seria vítima, sem dúvida alguma, de brincadeiras jocosas e infelizes.


Bendito Benedito, que aos 45 minutos do segundo tempo de um Fla-Flu em fins de 1983, recebeu lançamento primoroso de Deley, esticou a bola na frente e, com passadas largas e convicção tremenda, avançou rumo ao gol flamengo defendido por Raul Plassmann. O lado tricolor das arquibancadas, que já deixava o Mário Filho, explodiu com o gol fatal, histórico, irreversível, inenarrável.


Bendita comemoração, mãos na cabeça como quem diz "eu não acredito!", que fica para sempre marcada dentro dos nossos corações tricolores. 

Bendito título, o primeiro.


Bendito Benedito, que no ano seguinte, noutro Fla-Flu, subiu alto, impávido colosso, para finalizar de cabeça um cruzamento perfeito do nosso camisa #4 Aldo. Bendito Benedito que fez Ubaldo Matildo Fillol brincar de estátua. Bendita explosão nas arquibancadas. Bendita alegria. Bendito bicampeonato carioca.

Bendito título, mais um, de um Flu campeão brasileiro de 1984 e tricampeão carioca em 1985.


Bendito sorriso que não se apagava do rosto de Benedito Assis Silva. Benditas comemorações dos amigos eternos, mãos espalmadas, pulos de alegria e abraços sinceros.

Bendito destino que levou Washington em 25 de maio, vítima de uma doença degenerativa - esclerose lateral amiotrófica (ELA). Destino que une, mais de três décadas depois, o camisa #9 daquele time histórico do Fluminense e o velho amigo Benedito, nocauteado aos 61 anos por uma insuficiência renal.


As tabelinhas infernais e os gols do Casal 20 agora serão noutro plano. E celebradas pelas crônicas imortais de Nelson Rodrigues.

Benditos ídolos Washington e Assis. Ah, pobres de espírito aqueles que profanam pelas esquinas que o Fluminense não tem ídolos.

Aí está a prova: Assis, o Carrasco, vira mito. Fica para a eternidade. A nação tricolor chora a perda daquele que honrou a camisa #10 como ninguém.

Vai com Deus, ídolo eterno!
Bendito, Benedito... bem dito Assis, o "Carrasco".

Saudade!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Carnaval 2014 - os sambas do Grupo Especial

Maior campeã do carnaval do Rio de Janeiro com 21 títulos, a Portela busca sair de uma longa "fila" com o melhor dos 12 sambas do Grupo Especial no ano de 2014

Como eu prometera no post anterior, agora chegou a vez dos pitacos sobre os sambas do Grupo Especial. Repito que esta é uma análise despretensiosa, coisa de quem gosta de samba e acha que pode dar opinião sobre a safra de 2014. Longe de mim querer parecer gato-mestre da matéria, mas acompanho carnaval há uns bons 30 anos, então creio que possa discorrer sobre o tema sem nenhum problema.

Para começar, vou meter o pé na porta: o que é a gravação dos sambas deste ano? Apresentar explanações dos carnavalescos sobre cada um dos doze enredos? O que o ouvinte quer é SAMBA, música pura e simplesmente. Dessa vez, o sr. Laíla, de quem já não tenho muita simpatia por meter o bedelho dele em tudo e ainda por cima se achar o todo poderoso da Beija-Flor, se superou no nonsense. Não tenho curtido também o formato de gravação ao vivo, adotado novamente desde 2011. Enfim, questão de gosto.

Nenhum dos 12 sambas das principais escolas do carnaval do Rio de Janeiro está alçado à categoria de obra-prima, mas é certo que alguns se sobressaem, enquanto outros elevam o nível da categoria dos bois com abóbora, algo que nunca é esperado de grandes escolas, mas por vezes isso acaba acontecendo.

Vamos então aos comentários, por ordem de apresentação na avenida, como feito na análise dos sambas da Série A.

Império da Tijuca
Enredo: "Batuk"
Compositores: Márcio André, Rono Maia, Karine Santos, Tatá, Vaguinho e Alexandre Alegria
Intérprete: Pixulé

Campeã da Série A em 2013, a agremiação do morro da Formiga volta ao Grupo Especial após 18 anos e com um grande samba. A parceria de Márcio André acertou na mosca e o que eles nos trazem é um refrão de cabeça poderoso - Vai tremer... o chão vai tremer... é nó na madeira, segura que eu quero ver... - e uma obra bastante adequada ao enredo proposto pelo carnavalesco Júnior Pernambucano, que faz sua estreia no grande desfile. Outro grande achado é a escola se intitular "o primeiro império do samba", o que não deixa de ser verdade, pois o Imperinho veio em 1940 e o Império Serrano surgiu em 1947. Se a escola fizer tudo direitinho e os jurados não canetarem esse samba-enredo, as chances de permanência no Grupo Especial são boas. Mais uma estreia merece destaque: a do intérprete Pixulé, que com "muita habilidade" conduz a gravação, onde foi mudado o tom na frase "Lua... clareia na aldeia... celebração... é dom de comunicação". Nada comprometedor, pelo contrário. Nota 9,8

Acadêmicos do Grande Rio
Enredo: "Verdes olhos de Maysa sobre o mar, no caminho: Maricá"
Compositores: Deré, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Hugo da Grande Rio e Toni Vietnã
Intérprete: Emerson Dias

Enredo CEP, como já se sabe e alusivo aos 200 anos de Maricá, com uma resvalada na cantora Maysa, para dar um pouco mais de credibilidade à escolha, já que a intérprete dos olhos que na definição de Manuel Bandeira eram "dois oceanos não-pacíficos", morou na cidade até o fim de sua vida em 1977. Não tenho a menor simpatia pela agremiação de Duque de Caxias pelo viés midiático que lhe é dado. Tenho enorme restrição a enredos do gênero porque eles apelam para os inevitáveis clichês na construção de uma letra de samba-enredo. E para piorar, o andamento da bateria comandada por Mestre Ciça é excessivamente acelerado, beirando a marcha. Apesar dos pesares, o samba não é dos mais terríveis do ano, embora seu refrão principal seja bem fraquinho se comparado ao da Império da Tijuca - aliás, é covardia a comparação. Emerson Dias, que conduz a gravação sozinho, esteve bem e seguro. Nota 9,1

São Clemente
Enredo: "Favela"
Compositores: Ricardo Góes, Serginho Machado, Grey, Anderson, FM e Flavinho Segal
Intérprete: Igor Sorriso

A agremiação de Botafogo aposta, como algumas outras coirmãs têm feito depois da aposta bem-sucedida da Portela, num samba com estrutura de três refrões. Eu estive numa das eliminatórias e para o meu gosto, havia obras melhores que a escolhida para representar a São Clemente em 2014. Mas a letra é bem construída e não compromete no resultado final. O intérprete Igor Sorriso foi apenas correto - nos dois últimos anos, especialmente em 2012, ele deu um show nas gravações. Nota 9,2

Estação Primeira de Mangueira
Enredo: "A festança brasileira cai no samba da Mangueira"
Compositores: Lequinho, Júnior Fionda, Paulinho Carvalho e Igor Leal
Intérprete: Luizito

E não é que a Mangueira vem para o carnaval de 2014 despida da antipatia que vinha conquistando nos últimos carnavais? Nada de "a maior escola do samba do planeta" e nada de "É surdo um, mané!". A verde e rosa de Cartola e Carlos Cachaça retoma suas tradições e rebatiza a lendária bateria com o lema de sempre - "Tem que respeitar meu tamborim". Foram condições impostas pelo presidente Chiquinho da Mangueira e o intérprete Luizito, que vinha com o alusivo ao qual me referi primeiro, seguiu à risca as ordens do 'chefe'. E ele brinda o ouvinte com uma interpretação fabulosa de um dos melhores sambas do ano, cortesia da parceria de Lequinho, Júnior Fionda e Igor Leal, já campeã noutros anos. O refrão de cabeça é ligeiramente duvidoso com o "Oba Oba... eu quero ver quem vai...", mas não compromete o restante da obra. Nota 9,7

Acadêmicos do Salgueiro
Enredo: "Gaia, a vida em nossas mãos"
Compositores: Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa
Intérpretes: Quinho, Leonardo Bessa, Xande de Pilares e Serginho do Porto

Lá vem o Salgueiro com seus exageros de sempre. Quatro intérpretes e um samba que os bambas qualificam como um dos melhores do ano - mas será que só sou eu que não gosto dele? À primeira audição, não me pegou e mesmo tendo escutado bem mais do que uma vez, continua não me agradando. O clichê "Caô, meu pai, Xangô" eu já ouvi zilionésimas vezes noutras obras e noutros carnavais, alguns bem recentes. Que pena, Salgueiro... seu samba não tocou meu coração. Nota 9,4

Beija-Flor de Nilópolis
Enredo: "O astro iluminado da comunicação brasileira"
Compositores: Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Júnior Trindade, Zé Carlos, Adílson Brandão e Diogo Rosa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Um dos grandes desastres de 2014. O pior samba da Beija-Flor desde os seus dois infames enredos de exaltação ao governo militar nos anos 70. Também pudera: fruto de uma escolha absolutamente infeliz de enredo, ao homenagear o ex-vice-presidente de operações da Rede Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, como mote para falar da comunicação do Brasil, só podia sair um samba tenebroso como este apresentado pela agremiação de Nilópolis. Um autêntico boi com abóbora que nem Laíla conseguiu salvar. Começaram muito mal quando o samba foi apresentado. Havia um "A campeã voltou" que logo foi descartado pelo diretor de carnaval porque podia soar mal para a BF - como se a própria fama da agremiação já não contribuísse para isso. Ao mexer na letra, Laíla piorou ainda mais a obra, como se ainda fosse possível. O refrão do meio é horroroso. Alguém gostou desse negócio de "Um lado a comunicar, o outro comunicou"? E o tal do "que babado é esse, de samba no pé"? Meu Deus... nem nos meus piores pensamentos podia imaginar a Beija-Flor apelando para um samba tão ruim. Enfim, gosto não se discute. Lamenta-se. Os componentes vão cantar com a fúria costumeira e vão achar tudo lindo, tudo ótimo, como sempre acham. Tomara que os jurados não se deixem levar pelo peso do enredo e coloquem a Beija-Flor fora do desfile das campeãs, que é o que ela merece. Nota 8,5

Mocidade Independente de Padre Miguel
Enredo: "Pernambucópolis"
Compositores: Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau
Intérprete: Bruno Ribas (participação especial Dudu Nobre)

Sambão! Se a Mocidade Independente de Padre Miguel precisava de algo para recuperar a auto-estima dos seus componentes, eis uma obra à altura das tradições da agremiação verde-e-branco. A homenagem a um dos grandes nomes da escola, o carnavalesco Fernando Pinto, autor de enredos lendários como "Ziriguidum 2001" e "Tupinicópolis", emociona. O samba é uma delícia de se ouvir, com belíssima melodia e ótima interpretação de Bruno Ribas - contratado em cima da hora para o lugar de Luizinho Andanças - e com uma forcinha de um dos compositores, Dudu Nobre. Faz tempo que a turma da Zona Oeste não vinha tão bem em termos de samba como agora em 2014. O problema é que a escola segue envolta com os velhos problemas de sempre: a indefinição política, resolvida há dias com a renúncia de Paulo Vianna na presidência, o atraso no barracão e demais imbróglios envolvendo até a troca da Rainha de Bateria. Que nada abale o desfile da Mocidade. Nota 9,8

União da Ilha do Governador
Enredo: "É brinquedo, é brincadeira! A Ilha vai levantar poeira!"
Compositores: Paulo George, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzil, Régis, Canindé e Flávio Pires
Intérprete: Ito Melodia

A segunda escola de quase todo mundo que gosta de carnaval no Rio de Janeiro vem com um bom samba para o desfile do Grupo Especial de 2014, para apagar a frustração dos insulanos com a obra apresentada ano passado na homenagem a Vinícius de Moraes. A tricolor da Ilha do Governador traz um enredo à altura da alegria que a agremiação tem como característica na maioria absoluta de seus desfiles. O único senão de um samba que tem uma boa melodia e boas sacadas como no refrão do meio é que falta o chamado "algo mais". Nada que comprometa o trabalho de Carlinhos Fuzil e parceiros. Ito Melodia, filho do saudoso Aroldo Melodia, conduz a gravação com segurança e animação. Nota 9,5

Unidos de Vila Isabel
Enredo: "Retratos de um Brasil plural"
Compositores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Professor Wladimir e Artur das Ferragens
Intérprete: Gilsinho

Campeã incontestável de 2013 com um samba que estava furos acima do resto, desta vez a Vila Isabel não tem uma obra-prima à altura do ano passado para lutar pelo bicampeonato, embora mais uma vez estejam entre seus autores o mala e onipresente Arlindo Cruz e também André Diniz, no que já é lugar comum em matéria de disputa na terra de Noel Rosa. Melodicamente, é uma obra que lembra em alguns momentos o samba do ano passado, mas não passa disso. A letra é menos inspirada, embora seja um bom samba - mesmo apelando para referências batidas como o canto do uirapuru e a lenda do negrinho do pastoreio. A Vila ganhou com a vinda de Gilsinho, que deixou a Portela. O intérprete saiu-se muito bem na gravação. Nota 9,5

Imperatriz Leopoldinense
Enredo: "Arthur X - o reino do Galinho de Ouro na corte da Imperatriz"
Compositores: Elymar Santos, Me Leva, Guga, Gil Branco e Tião Pinheiro
Intérprete: Wander Pires

Mais uma tentativa de trazer o futebol ao carnaval: a Imperatriz Leopoldinense faz uma aposta duvidosa num enredo sobre Zico (que faz 60 anos exatamente no dia do desfile, 3 de março) para angariar a simpatia da torcida flamenga para a agremiação de Ramos, sempre espiaçada pelos bambas e tida como uma escola "fria" e "certinha". Coisa de quem, convenhamos, não entende do riscado porque já vimos a Imperatriz levantar a avenida, como aconteceu em 1980/81, em outros dois anos em que não foi campeã - 82/83 - e em 1989, no ano em que derrotou o luxo do lixo da Beija-Flor de Joãozinho Trinta. Mas isso não vem ao caso, agora. Voltemos à aposta duvidosa: afirmo isso me baseando no que aconteceu com a Estácio de Sá em 1995 (100 anos do Flamengo), com a Unidos da Tijuca em 1998 (100 anos do Vasco) e com a Acadêmicos da Rocinha (100 anos do Fluminense). Foram enredos que não deram em nada ou em rebaixamento - caso da agremiação do Borel. E que fique claro: desde o início, achei a proposta de enredo equivocada, sendo que eu sou torcedor doente da Imperatriz. E com imenso pesar, não vou torcer pela minha escola do coração pela primeira vez nos últimos 34 anos. O samba também não é grande coisa. Na gravação, ficou sem explosão nenhuma, embora o refrão de cabeça seja pura apelação para fazer a galera levantar na arquibancada. E para o meu gosto, havia coisa melhor na disputa: o samba defendido por Wantuir e Preto Jóia na gravação e assinado por Zé Catimba (há quem diga que era de André Diniz, que não pode pôr o nome na parceria, por já estar na Vila) era mais melódico do que a obra que vai para a avenida. Só posso dizer uma coisa: em 2015 volto a torcer, a menos que se escolha outro enredo ridículo. Nota 9,2

Portela
Enredo: "Um Rio de mar a mar: do Valongo à glória de São Sebastião"
Compositores: Toninho Nascimento, Luiz Carlos Máximo, Waguinho, Edson Alves e J. Amaral
Intérprete: Wantuir

Mais um grande samba da parceria de Luiz Carlos Máximo, o que tem sido normal nos últimos três anos. A Portela segue sua aposta em obras com três refrões, mantendo o padrão que encantou os bambas e também os jurados, que premiaram a agremiação de Oswaldo Cruz com cinco notas máximas em 2012 e 2013. Samba delicioso de ouvir, cheio de bossa, ginga e malandragem, digno de fazer o Rio circular de terno de linho e chapéu panamá, feito malandro da Lapa. A estreia de Wantuir é em grande estilo. Foi uma excelente aquisição para o microfone da azul e branco no lugar de Gilsinho, que foi para a Vila. É a melhor das 12 obras do Grupo Especial neste ano. Nota 9,9

Unidos da Tijuca
Enredo: "Acelera, Tijuca!"
Compositores: Gustavinho Oliveira, Fadico, Caio Alves e Rafael dos Santos
Intérprete: Tinga

A viagem do carnavalesco Paulo Barros sobre o tema Ayrton Senna, cuja morte completa 20 anos em 2014 nos traz o outro boi com abóbora do carnaval deste ano no Grupo Especial. E não é porque sou fã declarado do outro tricampeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, que critico duramente a obra da agremiação do morro do Borel. É porque o samba é ruim. No primeiro refrão já pega pesado com dois dos grandes rivais de Ayrton - Alain Prost e Michael Schumacher. Tem quem ache que não, mas um refrão que diz "Tentando trapacear, deu mole, rodou na pista... ficou para trás o Vigarista", sendo que Schumacher era jocosamente chamado de Dick Vigarista pela imprensa brasileira e o Prost rodou na volta de apresentação do GP de San Marino de 1991, fica bastante claro quem são os vilões da história, não é mesmo? E o final do segundo refrão, que tinha "Ayrton Senna do Borel" foi trocado para "Ayrton Senna do Brasil", com certeza para fazer um ligeiro afago no ego de Galvão Bueno. E sobre o samba, a escolha foi infeliz: havia, sem nenhuma dúvida, pelo menos uma obra melhor do que esta, assinada pela parceria de Luiz Thiago e Diego do Carmo. Nota 8,7